Bancos negam financiamentos de carros por medo da inadimplência. Sete em cada dez pedidos são recusados


quarta-feira setembro 28, 2022

Depois dos impactos da pandemia, quem acompanha o setor automotivo avalia que o mercado começou a retomar gradativamente a produção nos últimos meses. Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostram que o volume de automóveis 0km subiu 46% em agosto, na comparação com o mesmo período de 2021. Como reflexo disso, as vendas seguem um caminho de recuperação.

Apesar da melhora na oferta de veículos novos, o cenário econômico não ajuda, e os seminovos e os usados continuam relevantes em termos de comercialização. Na hora da compra, no entanto, o financiamento, muito buscado por boa parte dos consumidores, torna-se um entrave.

Números apurados pela Bolsa de Valores de São Paulo (B3) mostram que o crédito auto caiu 6,7% na comparação entre os meses agosto de 2021 e 2022. A queda é ainda mais acentuada entre os usados, que representam a maioria entre os financiamentos: 12,5%. Quando se observa especificamente o crédito Direto ao Consumidor (CDC), as transações subiram 11,1% entre julho e agosto, mas foram 10,9% menores na comparação com o mesmo período de 2021.

A dificuldade é percebida pelos vendedores tanto de carros novos quanto de modelos usados.

O aumento no número de pedidos de crédito negados vem aumentando, tanto para usados quanto para carros 0km. Entendo que isso aconteça por conta do aumento na inadimplência nesse momento — diz José Maurício Andreta Júnior, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

No Rio, o número de financiamentos negados entre os usados aumentou. É o que observa Leonardo Meirinho, presidente da Associação dos Comerciantes da Estrada Intendente Magalhães (Aceima), entidade vinculada à Federação Nacional das Associações dos revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).

 

— A rigidez na concessão de crédito aumentou. No ano passado, para cada dez tentativas de crédito, tínhamos quatro aprovações. Agora, são duas ou três — diz Merinho: — A queda de renda das famílias gera inadimplência. O carro não escapa disso e acaba levando ao acúmulo de mais dívida por não ser prioridade. Por isso, os bancos fecham a torneira.

Saída é pedir ajuda para parentes

Quem não consegue o crédito, conta Meirinho, não desiste da compra e acaba trilhando outros caminhos, como tentar a liberação do crédito no nome de algum parente ou amigo. Segundo ele, isso tem acontecido principalmente entre aqueles que precisam de um veículo para trabalhar, como os motoristas de aplicativo.

 

O taxista Marcelo Pego, de 51 anos, sentiu a dificuldade no início do ano, ao buscar um crédito para comprar outro veículo, a fim de trabalhar como parceiro de um app de transporte. A tentativa de financiamento do automóvel, um sedã 2020 avaliado em R$ 76 mil, foi recusada, e ele recorreu a uma irmã para conseguir comprar o veículo.

— Como já tinha o financiamento do carro que uso como táxi e estou negativado no cartão de crédito, o banco não liberou. Então, pedi o nome da minha irmã, e foi liberado. Agora estou pagando dois financiamentos — conta o motorista, que para dar conta das despesas trabalha das 4h às 14h como motorista de aplicativo e depois até as 21h como taxista.