INFLAÇÃO DESACELERA E FICA EM 0,16% EM MARÇO, SEGUNDO O IBGE

IPCA veio abaixo das expectativas do mercado, que apontava alta de 0,24%; no acumulado em 12 meses, indicador ficou em 3,93% (Por Daniela Amorim (Broadcast))


quinta-feira abril 11, 2024

Após o repique provocado pela pressão dos reajustes de mensalidades escolares em fevereiro, a inflação oficial no País perdeu força em março. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou de uma elevação de 0,83% em fevereiro para alta de 0,16% em março, menor resultado para o mês desde 2020, divulgou nesta quarta-feira, 10, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado ficou praticamente no piso das estimativas dos analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que previam um aumento mediano de 0,24%. A divulgação impactou as taxas de juros negociadas no mercado futuro, que chegaram a operar em queda após a surpresa com o cenário inflacionário mais benigno que o estimado.

A taxa acumulada pela inflação em 12 meses arrefeceu pelo sexto mês consecutivo, descendo a 3,93% em março, dentro do teto de tolerância (de 4,50%) da meta de inflação perseguida pelo Banco Central em 2024, que é de 3,0%.

“O IPCA de março veio abaixo do esperado e com abertura mais benigna também”, avaliou Luciana Rabelo, economista do Itaú Unibanco, em relatório.

Rabelo identificou surpresas baixistas nos preços tanto de serviços quanto de bens industriais, mantendo assim uma projeção de alta de 3,6% para o IPCA no fechamento de 2024. A inflação surpreendeu para baixo em março, mas os preços dos serviços seguem pressionando, ponderou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, em comentário.

“Apesar de o IPCA ter desacelerado em março, ainda vemos a inflação de serviços muito pressionada pelo mercado de trabalho aquecido, o que representa um risco altista para os juros”, apontou Moreno, em comentário.

O C6 Bank prevê que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central corte a taxa básica de juros, a Selic, dos atuais 10,75% ao ano para 9,25% ao fim de 2024, descendo a 8,5% no encerramento de 2025.

“Para a política monetária, esse dado de março (do IPCA) não deve alterar o plano de voo já anunciado pelo Banco Central. A nossa perspectiva é de cortes de 0,5 ponto porcentual nas próximas reuniões (do Copom), pelo menos para maio e junho. Os próximos dados serão importantes para calibrar melhor o cenário à frente”, corroborou o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung.

No mês de março, três dos nove grupos de bens e serviços que integram o IPCA registraram quedas de preços. As famílias gastaram menos com transportes (-0,33%), comunicação (-0,13%) e artigos de residência (-0,04%).

A redução de 9,14% no custo das passagens aéreas deu a maior contribuição para conter a inflação oficial em março, -0,07 ponto porcentual. No ano, as passagens aéreas já recuaram 31,21%, mas o item ainda acumula um avanço de 18,65% em 12 meses, observou André Almeida, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.

“Nos meses de férias a gente tem naturalmente uma maior demanda de viagens, visitar parente, turismo. Isso contribuiu para a alta dos preços das passagens aéreas no fim do ano passado”, disse Almeida.

Quanto ao recuo mais recente, o pesquisador acredita que possa estar relacionado tanto ao fim desse período de férias quanto à redução no preço do querosene de aviação, apontou. A gasolina, item de maior peso no orçamento das famílias, subiu menos em março, 0,21%, enquanto o etanol aumentou 0,55%. Já o gás veicular caiu 2,21%, e óleo diesel recuou 0,73%.

“A alta de preços de alimentos também desacelerou”, acrescentou Almeida. “Ainda assim, o grupo Alimentação e bebidas teve o maior impacto no IPCA de março.”

Na passagem de fevereiro para março, o consumidor encarou mais alimentos com aumentos de preços, porém, os reajustes foram mais amenos. O gasto com Alimentação e bebidas subiu 0,53% em março, respondendo por cerca de dois terços de toda a inflação do mês. O índice de difusão de itens alimentícios, que mostra o porcentual de produtos com aumentos de preços, passou de 56% em fevereiro para 61% em março.

“A gente teve alta de preços em mais subitens alimentícios, porém, essa alta foi menor”, explicou Almeida.

Segundo o pesquisador, os preços dos alimentos têm subido nos últimos meses por uma influência climática sazonal, que neste ano foi agravada pela ocorrência do fenômeno El Niño. As intempéries prejudicaram algumas lavouras, reduzindo a oferta de determinados itens.

O custo da alimentação no domicílio subiu 0,59% em março. As famílias pagaram mais pela cebola (14,34%), tomate (9,85%), ovo de galinha (4,59%), frutas (3,75%) e leite longa vida (2,63%). Já a alimentação fora do domicílio aumentou 0,35%. O lanche subiu 0,66%, enquanto a refeição fora de casa avançou 0,09%.

O principal vilão individual da inflação de março foi o plano de saúde, que ficou 0,77% mais caro, uma contribuição de 0,03 ponto porcentual para a inflação. O brasileiro também pagou mais pelos produtos farmacêuticos (0,52%), com destaque para o encarecimento do anti-infeccioso e antibiótico (1,27%) e do analgésico e antitérmico (0,55%). (Fonte: Estadão)