AINDA À ESPERA DE IGUALDADE, MULHERES TÊM DESEMPREGO MAIOR E RENDA MENOR. PRINCIPALMENTE AS NEGRAS

Mercado de trabalho melhorou no ano passado, para todos os segmentos, mas ainda revela desequilíbrio. Mulheres sentiram mais dificuldades para voltar ao mercado de trabalho depois da pandemia


segunda-feira março 11, 2024

O mercado de trabalho teve melhoras em 2023, atingindo todos os setores, mas a inserção da mão de obra feminina segue sendo um desafio. As mulheres têm taxa de desemprego mais elevadas – embora tenham diminuído – e menores salários. A ponto de o governo aprovar, no ano passado, uma lei, ainda em fase de implementação, de igualdade salarial entre homens e mulheres na mesma função. Elas também são mais atingidas pela informalidade.

Boletim elaborado pelo Dieese para o Dia Internacional da Mulher mostra que o desemprego caiu para 7,4% no último trimestre do ano passado, ante 7,9% em igual período de 2022. Ou menos 490 mil desempregados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. O número de ocupados e o rendimento cresceram.

Desemprego e pandemia
No caso das mulheres, a taxa de desemprego também caiu, mas é de 9,2% (ante 9,8% no último período de 2022). Já a dos homens foi de 6,5% para 6%. Mas no final do ano passado as mulheres representavam mais a metade dos desempregados: 54,3%. E 35,5% eram negras. Assim, a taxa de desemprego entre mulheres negras é bem maior: 11,1%. Entre as não negras, vai a 7%.

“A pandemia também afetou mais as trabalhadoras. Enquanto a participação dos homens voltou ao nível anterior à crise sanitária, elas sentiram mais dificuldades para voltar ao mercado de trabalho e enfrentaram taxas de desemprego mais altas”, lembra o Dieese. “Durante a pandemia, algumas mulheres assumiram tarefas adicionais nos domicílios (como o cuidado de outras pessoas). Outras perderam postos de trabalho em atividades mais afetadas pela crise (comércio, restaurantes e serviços) e, mesmo com a retomada da economia, muitas ainda não conseguiram
se recolocar.”

Do quarto trimestre de 2022 para igual período do ano passado, a ocupação feminina cresceu 1,65% (mais 705 mil mulheres) e a masculina, 1,6% (910 mil homens a mais). Já entre as mulheres negras houve alta de 2,5%, com mais 565 mil ocupadas. Entre as não negras, 0,7% (140 mil).

Dificuldade de inserção
Por outro lado, a taxa de subutilização (pessoas que gostariam de trabalhar mais) é maior entre mulheres negras (7,3%) e homens negros (5%), caindo para 4,8% entre não negras e 3,1% para não negros. “A fragilidade da inserção da mulher negra mais uma vez aparece quando se entende que elas trabalham menos do que gostariam e precisam, com jornadas e salários menores”, aponta o Dieese.

Já o rendimento médio das mulheres (R$ 2.562) no último trimestre de 2023 é 22,3% menor que o dos homens (R$ 3.323). “Entre todas as
ocupadas, 39,9% recebiam no máximo um salário mínimo e, entre as negras, metade ganhava até esse valor (49,4%), enquanto essa proporção era de 29,1% entre as não negras e de 29,8% entre os homens.”

Preconceito e desigualdade
A desigualdade se revela mesmo em cargos de maior remuneração. Quatro de cada 10 pessoas ocupadas como diretoras ou gerentes eram do sexo feminino. Mas elas recebiam 29,5% a menos: R$ 5.900, ante R$ 8.363 pagos aos homens.

“Esses números refletem os preconceitos e desigualdades existentes no mercado de trabalho brasileiro: a dificuldade de se aceitar que mulheres possam comandar; a discriminação e o assédio sofridos pelas trabalhadoras, o que prejudica a permanência delas nos postos de trabalho; os problemas para conciliar os afazeres domésticos e as atividades profissionais”, salienta o Dieese. Em 2022, as mulheres dedicavam quase 17 horas na semana com afazeres domésticos relacionados às famílias. Os homens, 11 horas. (Fonte: RBA)