LUCRO DOS TRÊS MAIORES BANCOS PRIVADOS CAI 17,2% NO 2º TRIMESTRE SOB PRESSÃO DA INADIMPLÊNCIA

Balanços de Itaú, Bradesco e Santander mostraram que o caminho para um alívio com os índices de inadimplência ainda é longo, mesmo com a queda dos juros (Por Matheus Piovesana)


terça-feira agosto 8, 2023

Os três maiores bancos privados do País lucraram R$ 15,569 bilhões no segundo trimestre deste ano, o que representa uma queda de 17,2% em relação ao mesmo período de 2022. No primeiro semestre, o ganho de Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil caiu 4,9%, para R$ 30,374 bilhões, de acordo com dados compilados pelo Estadão/Broadcast.

Enquanto o mercado financeiro pondera que a queda dos juros deve trazer um alívio aos índices de inadimplência à frente, os balanços dos três bancos mostraram que o caminho ainda é longo. Houve estabilização em alguns segmentos, mas as instituições ainda tiveram de “pagar a conta” de concessões de crédito realizadas até o ano passado.

No trimestre, a entrada de créditos em atraso nos três bancos somou R$ 30,1 bilhões, volume 17,1% maior que o do mesmo período do ano passado. O indicador é utilizado por analistas para entender o comportamento da carteira de crédito dos bancos, e também as potenciais variações das provisões contra calotes nos trimestres seguintes.

O número indica que, apesar de arrefecer, a inadimplência dos bancos ainda continua mostrando os sinais da alta da Selic e também da inflação no ano passado. Enquanto a inflação foi contida, a taxa de juros começou a cair apenas na semana passada, quando foi cortada em 0,5 ponto porcentual, para 13,25% ao ano.

O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, disse que a maior parte da despesa do banco com provisões no trimestre foi associada a operações de crédito concedidas até o ano passado. “A criação de PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) no segundo trimestre ainda reflete o efeito de safras antigas”, afirmou ele, em coletiva de imprensa.

Em um ponto do ciclo mais adiantado que o rival, o Santander também aposta na melhor qualidade dos empréstimos mais recentes para melhorar o lucro nos próximos trimestres. “O custo de crédito tem um viés de continuar melhorando ao longo do ano”, afirmou o CEO do banco, Mario Leão.

Tanto Bradesco quanto Santander têm apresentado retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) abaixo dos 20% desde o ano passado, mesmo quando descontado o efeito do caso Americanas, que afetou a todos os grandes bancos nos balanços do quarto trimestre. Já o Itaú, mais exposto a clientes de renda mais elevada, tem sustentado rentabilidade acima de 20%.

Pico
Na divulgação dos resultados do primeiro trimestre, o Itaú disse a jornalistas e aos analistas de mercado que não esperava grandes variações nos índices de inadimplência nos trimestres seguintes. No segundo trimestre, que teve os dados divulgados nesta segunda-feira, os atrasos acima de 90 dias chegaram a 3,0% da carteira do banco, contra 2,9% no anterior.

“Iniciamos a segunda metade do ano otimistas com as perspectivas para o futuro, decorrentes da consolidação da agenda monetária e fiscal que deverá promover uma retomada mais robusta da atividade econômica no País”, disse o presidente do Itaú, Milton Maluhy, em nota à imprensa.

Nos casos de Bradesco e Santander, também houve altas: no banco da Cidade de Deus, o crescimento em um trimestre foi de 0,8 ponto porcentual, para 5,9%. No Santander, a alta também foi de 0,1 ponto, para 3,3%.

Os dois bancos afirmaram que os números de atrasos do segundo trimestre parecem sinalizar que o pior ficou para trás. Entretanto, não descartaram novas altas da inadimplência à frente, ainda que em menor escala do que as vistas no último ano.

“O pico da geração de inadimplência já passou. Passamos pelo pior, o que se baseia no contexto macro que estamos vivendo”, disse Mario Leão, do Santander. Segundo ele, o banco tem visto sinais positivos em especial na inadimplência antecedente, de 15 a 90 dias, que no trimestre, caiu de 4,5% para 4,2%.

Lazari, do Bradesco, também mostrou cautela com os números da inadimplência à frente. Segundo ele, as carteiras mais antigas têm mostrado comportamento negativo, em linha com o que o banco esperava, mas as mais recentes têm apresentado maior resiliência. “Até por prudência, é difícil dizer que atingimos um pico, mas estamos bem próximos dele ou já o atingimos”, afirmou. (Fonte: Estadão)